domingo, 14 de junho de 2020

Mundo Pós-Pandemia

Este poema foi escrito originalmente para o edital Arte como Respiro, promovido pelo ItaúCultural, que tinha como tema a vida pós-pandemia. A versão publicada aqui difere do poema enviado, o qual não foi selecionado, mas preserva sua essência.

Mundo Pós-Pandemia

Como será o mundo pós-pandemia?
Um espelho do que antes dela existia?

O vírus da desigualdade alarmante
Nega esgoto tratado e água encanada
Espreme no mesmo quarto, no mesmo instante,
Toda a gente ali aglomerada
Sem privacidade nem privada
Como dizer pra essa gente:
- Lava a mão, fica isolada?

O vírus da indiferença mata mais
O isolamento que na pandemia salva
Não é o dos mudos muros que separam
Os que podem dos que não podem
Atender ao pedido:
- Fica em casa.

O vírus da ganância é letal
Tira do público o hospital
Sem UTI ou EPI
Sem dinheiro nem enfermeiro
O pobre é quem morre primeiro.

O vírus da ignorância nega ao final
Dados e crescimento exponencial
Mascara fatos, ignora máscaras,
Enquanto números chegam ao ápice
E nomes chegam às lápides.

Mesmo depois da vacina
Só todos os vírus tratados
Criam algo pra ser chamado
De mundo pós-pandemia.

sábado, 12 de outubro de 2019

Rejeitados Rejeitos

Rejeitados Rejeitos


Venho exaltar os limpadores de fossas e latrinas,
Os catadores de lixo e os garis,
Que não reclamam de suas sinas,
Nem divagam em pensamentos pueris.

Mulheres e homens esquecidos,
Cujas mãos tocam onde a de outros não alcança
Por asco, nojo ou mesmo ignorância,
Por sentirem horror e ânsia
De vomitar.

Ignorando que se há perfume e não chorume
É porque há incríveis seres invisíveis
Que deixam seus leitos para recolher dejetos
Até mesmo dos sujeitos
Para quem não passam
De objetos.

segunda-feira, 16 de setembro de 2019

A INÚTIL DOR

A INÚTIL DOR

Perdido dentro de mim eu ia
Nesta imensidão vazia
E num grito agudo que ninguém ouvia
Eu derramava por dentro as lágrimas de minha agonia.

Chora menino, chora,
E rega a planta pra que ela cresça,
Mas rega com a dor que o mundo te ofereça
E não com aquela que em ti habita.

Porque a planta que não cresce
É como a ave que não nasce
E que nunca voará tão alto
E por mais irônico que seja
É a vida fácil
Que te torna frágil.

quarta-feira, 10 de maio de 2017

Olho do Furação

Olho do Furação

Enquanto um turbilhão de coisas
estraçalham tudo ao teu redor,
permanece tranquilo,
pois o teu sorriso te protege
e a paz em teu olhar te faz melhor.

domingo, 1 de janeiro de 2017

O Outro Extremo

Recordo-me de que, quando éramos crianças, eu e meu irmão tínhamos nossas cores favoritas, a minha era o verde e a dele o vermelho. Naquela época, eu acreditava que o contrário do verde era o vermelho. Essa foi uma das primeiras situações em que alguém me explicou que nem todas as coisas precisam ter seu contrário. Embora essa seja uma ideia simples, muitas pessoas, em um mundo que carece de tolerância, parecem ainda não ter compreendido essa noção. Essa foi a inspiração para este poema.

O Outro Extremo


Para o preto existe o branco.
Para o dia, a noite.
Para o forte, o fraco.
Para o certo, o errado.
Para o sim, o não.
Para a luz, a escuridão.
Para o começo, o fim.
Para o tudo, o nada.
Para a esquerda, a direita.
Para o bonito, o feio.
Para a vida, a morte.
Para o bem, o mal.
Para o inferno, o céu.

Mas então...
Se tudo é preto ou branco, do que é feito o arco-íris?
O que seria do mundo sem as tardes?
E do verde, se pintado ao contrário?

sábado, 26 de novembro de 2016

Superação

Em uma viagem de avião, ao observar o horizonte alaranjado, comecei a imaginar o que aconteceria se o avião fosse veloz o bastante para criar um "nascer do Sol poente". Daí surgiu este pequeno poema.

Superação 


Quando os obstáculos da vida
quiserem escurecer teu dia,
abre tuas asas e voa velozmente,
como o mais veloz dos aviões o faria,
e transforma então o Sol poente,
no amanhecer do fim do dia.

quarta-feira, 8 de junho de 2016

Paradoxo Digital

Paradoxo Digital

Nunca se pôde estar tão perto
de pessoas tão distantes,
nem do próximo jamais se esteve
como hj tão distante.

Q ironia terrível
a desta terra intangível,
onde td evapora,
desde letras não tecladas
até o apreciar das longas horas,
no ansioso movimento,
q impele do já ao agora.

Nesta vida de momentos perdidos,
entre fotos, selfies, faces e falsos sorrisos,
veem-se homens desconectados,
pra se manterem mais bem informados,
ignorando terem se transformado
nos zumbis de jogos, filmes e séries
q acompanham enquanto do mundo permanecem
isolados.

sábado, 9 de janeiro de 2016

Caos

Caos

Mnudo:
Eslhope de mim qeu naõ sou ue.
Ñao comenpredo.

Proque a dor crua, se nao~ nua
Me coróri os senttimenos
Com penamentoss.

Netre o qeu ue qeuro
E o qeu ue vjeo
Questionatomen.

Um ser tereno

Sem momenvito?

quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

Davi

Uma pequena homenagem ao meu sobrinho que foi escrita no dia 26 de janeiro de 2008.

Davi

Criança, qual teu nome?
O que trazes contigo?
DAVI DAVI DAVI DAVI DAVI DAVI DAVI DAVI DAVI DAVI DAVI DAVI DAVI DAVI DAVI DAVI DAVI DAVI DAVI VIDA VIDA VIDA VIDA VIDA VIDA VIDA VIDA VIDA VIDA VIDA VIDA VIDA VIDA VIDA VIDA VIDA VIDA VIDA VIDA.

domingo, 20 de dezembro de 2015

Suicídio

Suicídio

Sintoma nefasto
de uma sociedade torpe
que quer com ferro em brasa
curar as feridas abertas
antes da própria morte.

Enquanto isso
novas feridas surgem,
pois o ferro quente não cura
os males latentes que causam
as pústulas que ora pululam.