Este poema foi escrito originalmente para o edital Arte como Respiro, promovido pelo ItaúCultural, que tinha como tema a vida pós-pandemia. A versão publicada aqui difere do poema enviado, o qual não foi selecionado, mas preserva sua essência.
Mundo Pós-Pandemia
Como será o
mundo pós-pandemia?
Um espelho do
que antes dela existia?
O vírus da
desigualdade alarmante
Nega esgoto
tratado e água encanada
Espreme no
mesmo quarto, no mesmo instante,
Toda a gente
ali aglomerada
Sem
privacidade nem privada
Como dizer
pra essa gente:
- Lava a
mão, fica isolada?
O vírus da indiferença
mata mais
O isolamento
que na pandemia salva
Não é o dos
mudos muros que separam
Os que podem
dos que não podem
Atender ao
pedido:
- Fica em
casa.
O vírus da ganância
é letal
Tira do
público o hospital
Sem UTI ou
EPI
Sem dinheiro
nem enfermeiro
O pobre é
quem morre primeiro.
O vírus da ignorância
nega ao final
Dados e crescimento
exponencial
Mascara
fatos, ignora máscaras,
Enquanto números
chegam ao ápice
E nomes chegam
às lápides.
Mesmo depois
da vacina
Só todos os
vírus tratados
Criam algo
pra ser chamado
De mundo pós-pandemia.